O Relatório de Inflação de setembro de 2024, publicado pelo Banco Central do Brasil, destaca uma conjuntura econômica global e doméstica marcada por desafios e dinâmicas distintas. No cenário internacional, as economias avançadas ainda enfrentam o processo de desinflação, com o núcleo inflacionário persistindo em níveis elevados, especialmente no setor de serviços, fortemente influenciado por mercados de trabalho aquecidos. A confiança na convergência das taxas de inflação para as metas aumentou, principalmente em países como os Estados Unidos, onde o Federal Reserve (Fed) adotou uma postura cautelosa, ajustando a taxa de juros em resposta à dinâmica econômica.
Nos Estados Unidos, a economia manteve-se sólida, com o PIB crescendo 3,0% no segundo trimestre de 2024, impulsionado pelo consumo das famílias. No entanto, sinais de moderação começam a surgir no mercado de trabalho, com a geração de empregos desacelerando e a taxa de desemprego subindo para 4,2% em agosto. A expectativa é que a inflação recue gradualmente, com a meta sendo atingida em meados de 2026.
Na Europa, a Zona do Euro apresentou um crescimento tímido, com o PIB avançando 0,2% no segundo trimestre, e a inflação permanecendo acima da meta, mas em desaceleração. O Banco Central Europeu (BCE) tem mantido a política monetária restritiva, com cortes graduais na taxa de juros à medida que a inflação dá sinais de recuo.
Na China, a economia enfrenta uma desaceleração, fortemente impactada pela crise no setor imobiliário. O PIB cresceu 5,0% no segundo trimestre, mas os desafios continuam, principalmente no setor de investimentos e no mercado de trabalho, que registrou aumento no desemprego entre junho e agosto.
No contexto doméstico, o Brasil surpreendeu positivamente, com o PIB crescendo 1,4% no segundo trimestre de 2024, superando as expectativas. O consumo das famílias e os investimentos foram os principais motores desse crescimento, enquanto a agropecuária apresentou queda. As enchentes no Rio Grande do Sul tiveram impacto limitado na economia nacional, e o mercado de trabalho continuou aquecido, com a taxa de desemprego caindo para 6,9%, próxima ao menor nível da série histórica.
A inflação no Brasil acumulada em doze meses subiu para 4,24% em agosto, e as expectativas de inflação para 2024 e 2025 se deterioraram. Apesar disso, as projeções indicam que a inflação deve retomar a trajetória de queda nos próximos trimestres, embora ainda acima da meta de 3,0% estabelecida para o período. O Banco Central elevou a taxa Selic para 10,75% a.a. em sua última reunião, sinalizando uma política monetária mais contracionista para conter as pressões inflacionárias.
O relatório também discute as perspectivas de crescimento para 2024 e 2025, revisando a projeção do PIB para 3,2% em 2024, devido ao desempenho surpreendente no primeiro semestre. No entanto, espera-se uma desaceleração no crescimento ao longo do segundo semestre de 2024 e em 2025, influenciada pela menor flexibilidade da política fiscal e monetária.
Impactos no mercado financeiro
No cenário global, a incerteza quanto à trajetória das políticas monetárias nos países avançados, especialmente nos EUA, tem gerado volatilidade nos mercados, afetando diretamente as economias emergentes, como o Brasil. A resiliência da atividade econômica global, juntamente com a desaceleração gradual da inflação, tem impulsionado ajustes nas expectativas de taxas de juros, que afetam o fluxo de capitais para os mercados emergentes.
No Brasil, o aumento da taxa Selic e a manutenção de uma política monetária contracionista têm impactos diretos nos mercados de crédito e de investimentos. A elevação dos custos de financiamento pode desacelerar o crescimento do crédito e afetar o consumo, especialmente de bens duráveis. Por outro lado, a taxa de juros elevada torna os ativos de renda fixa mais atrativos, o que pode desviar investimentos de ativos de risco, como as ações.
Além disso, o cenário de incerteza em relação à inflação e à política monetária global tende a aumentar a volatilidade cambial, influenciando a atratividade de investimentos estrangeiros no Brasil. A desvalorização cambial observada recentemente, juntamente com a elevação das expectativas de inflação, reforça a necessidade de ajustes na política econômica para garantir a estabilidade macroeconômica.
O Relatório de Inflação de setembro de 2024 oferece uma visão abrangente da economia brasileira e global, destacando os desafios e as perspectivas para os próximos trimestres. No Brasil, o crescimento econômico continua surpreendendo, mas a inflação permanece uma preocupação central, exigindo medidas mais rigorosas do Banco Central para garantir a convergência à meta estabelecida. No cenário global, a persistência da inflação em níveis elevados, apesar da moderação da atividade econômica, continua sendo o principal risco para a condução da política monetária nos países avançados e emergentes.