Há quem imagine o controle interno como um inspetor sisudo rondando corredores, pronto para apontar falhas e distribuir culpas. No universo dos Regimes Próprios de Previdência Social, porém, essa imagem desbotada não resiste a uma verdade mais nobre e muito mais humana: o controle interno não nasceu para punir — nasceu para proteger. Proteger o servidor público, proteger o patrimônio previdenciário, proteger o futuro que cada contribuição paciente busca construir.
Quando caminhamos com atenção pela história da administração pública, percebemos que as instituições mais sólidas não se sustentam pela força, mas pela confiança que inspiram. E confiança não se escreve por decreto; ela se cultiva, como quem cuida de um jardim antigo, podando excessos, acompanhando o ritmo das estações e preservando aquilo que sustenta a vida. O controle interno do RPPS é esse jardineiro invisível. Ele não espera a árvore tombar para agir. Ele observa, antecipa, corrige suavemente o rumo e permite que o sistema cresça com saúde e coerência.
Diferentemente da fiscalização externa, que costuma chegar quando o problema já se instalou, o controle interno age antes, durante e depois. É presença constante, mas silenciosa; vigilância delicada, mas firme. Seu papel é garantir que cada decisão administrativa, cada pagamento de benefício, cada cálculo atuarial e cada aplicação financeira esteja alinhada à legislação, aos princípios da administração pública e, sobretudo, ao compromisso moral do RPPS com o servidor que dedicou sua vida ao serviço da coletividade. Não há grandeza maior do que essa.
Ao compreender sua verdadeira essência, percebemos que o controle interno não é uma trava burocrática, mas um farol. Ele ilumina processos, aperfeiçoa rotinas, evita que o gestor caminhe às cegas e reduz aquilo que é mais perigoso no universo previdenciário: a incerteza. Um RPPS sem controle interno é como um barco navegando em mar aberto sem bússola — pode até avançar por algum tempo, mas está sempre à mercê de tempestades previsíveis.
O controle interno bem estruturado traz serenidade ao gestor e transparência ao segurado. Ele assegura que os recursos sejam aplicados com responsabilidade, que os cadastros sejam confiáveis, que a folha de benefícios esteja correta e que a Política de Investimentos seja cumprida com rigor técnico e prudência. Ao fazer isso, afasta riscos de desequilíbrios, evita exposições desnecessárias e preserva o patrimônio que é, no fim das contas, o patrimônio de vidas inteiras.
É por isso que o controle interno é, antes de tudo, pedagógico. Ele ensina. Ele orienta. Ele amadurece a instituição. Ele ajuda dirigentes, conselheiros e equipes a compreender como cada etapa do processo previdenciário se conecta à outra, como uma engrenagem depende da precisão da anterior. Não se trata de buscar culpados, mas de construir consciência — e poucas tarefas são tão elevadas quanto essa.
Em tempos em que a desinformação e a pressa tentam simplificar assuntos complexos, o controle interno representa o respiro. Ele nos convida à prudência, à técnica e ao respeito pelo servidor que dedica décadas ao serviço público na esperança legítima de envelhecer com dignidade. Proteger esse futuro não é um ato burocrático; é um ato de justiça.
Assim, quando se fala em controle interno no RPPS, é preciso enxergar além dos formulários, das normas e das rotinas. É preciso vê-lo como uma expressão de cuidado institucional, quase um gesto de lealdade entre gerações. Ele existe para garantir que o servidor aposentado amanhã não pagará o preço dos erros de hoje.
Há, nisso tudo, uma poesia discreta — a poesia do compromisso. O RPPS que abraça o controle interno não teme o escrutínio; pelo contrário, encontra nele a força para agir de forma ética, transparente e responsável.
Porque proteger o servidor é, sempre foi e sempre será a verdadeira razão de existir da previdência pública. E o controle interno é a mão estendida que assegura que essa promessa não se perca no caminho.

