Nos últimos anos, a integração de fatores ambientais, sociais e de governança (ASG) nas decisões de investimento deixou de ser uma escolha opcional para gestores e fundos, tornando-se uma exigência do mercado. Essa mudança reflete a crescente pressão dos investidores, da sociedade e dos próprios órgãos públicos, como os Regimes Próprios de Previdência, para que as empresas adotem práticas mais responsáveis e sustentáveis. Com o aumento da consciência sobre os riscos associados às mudanças climáticas, às desigualdades sociais e às falhas de governança, os gestores, inclusive de RPPS, passaram a incorporar os fatores ASG em seus processos de análise e tomada de decisão.
O conceito de ASG começou a ganhar destaque mundialmente a partir dos anos 2000, especialmente com o lançamento dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI) em 2006, iniciativa apoiada pelas Nações Unidas que orienta investidores institucionais a integrarem questões ASG em suas decisões. Desde então, o volume de investimentos sustentáveis tem crescido exponencialmente, alcançando US$ 35,3 trilhões em ativos sob gestão em 2020, o que representa 36% de todos os ativos profissionais nos principais mercados globais.
No Brasil, a agenda ASG vem ganhando força. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) lidera essa pauta, estabelecendo, desde 2022, critérios e procedimentos para a identificação de fundos de investimento sustentáveis (fundos IS), buscando garantir maior clareza, transparência e combater práticas de greenwashing.
Os RPPS, responsáveis pela gestão dos fundos de previdência dos servidores públicos, têm uma oportunidade única de influenciar o mercado através da integração de práticas ASG em suas políticas de investimento. Além de atender às regulamentações, ao incorporarem critérios de sustentabilidade, os RPPS podem gerar impactos positivos na sociedade e no meio ambiente, sem abrir mão da responsabilidade fiduciária e do compromisso com a segurança dos recursos.
Os fatores ASG se desdobram em três grandes dimensões:
Ambiental, que abrange o impacto das atividades empresariais sobre o meio ambiente, incluindo a emissão de carbono, uso de recursos naturais, gestão de resíduos e riscos climáticos. Para os RPPS, avaliar esses fatores é essencial para evitar a exposição a riscos ambientais que possam comprometer o desempenho dos investimentos.
Social, que refere-se ao relacionamento das empresas com seus colaboradores, clientes, comunidades e stakeholders, abordando direitos humanos, diversidade, condições de trabalho e segurança. Incorporar o pilar social é uma maneira de garantir que os recursos dos RPPS sejam aplicados em organizações que promovam benefícios sociais tangíveis.
Governança, que trata da forma como as empresas são administradas, considerando práticas de transparência, composição dos conselhos, combate à corrupção e responsabilidade corporativa. Para os RPPS, boas práticas de governança são fundamentais para proteger os ativos e assegurar a solidez da gestão.
Integrar os fatores ASG na gestão dos RPPS é uma estratégia de mitigação de riscos não financeiros que podem ter forte impacto sobre a rentabilidade e a reputação dos investimentos. Riscos ambientais, sociais ou de má governança, quando não gerenciados, podem afetar severamente a performance das empresas e dos fundos. Além disso, empresas que lideram em práticas ASG tendem a ser mais resilientes, atraem investidores conscientes e apresentam melhor eficiência operacional, aumentando seu valor no mercado.
A possibilidade de investir em fundos de investimento sustentáveis (fundos IS) é uma importante ferramenta para os RPPS. Regulamentados pela ANBIMA, esses fundos exigem práticas claras de transparência e compromisso com a sustentabilidade, o que proporciona aos RPPS a oportunidade de unir segurança financeira a impactos positivos ambientais e sociais.
Outro instrumento relevante é a prática de engajamento ativo, onde os gestores interagem com as empresas investidas para incentivar melhorias nas práticas ASG. Para os RPPS, essa estratégia amplia seu poder de influência e contribui para aprimorar a responsabilidade corporativa do mercado como um todo.
Entretanto, a mensuração de práticas ASG ainda representa um desafio, devido à falta de padronização global nos critérios de avaliação. Essa realidade leva muitos gestores a desenvolverem seus próprios sistemas de monitoramento, aprimorando a análise dos riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade.
A adoção dos fatores ASG pelos RPPS não é apenas uma tendência passageira, mas uma necessidade estratégica para garantir a longevidade e a responsabilidade na gestão dos recursos públicos. A integração da sustentabilidade com a gestão financeira fortalece a credibilidade dos RPPS, atende às exigências da sociedade contemporânea e contribui para a construção de um futuro econômico mais justo, resiliente e equilibrado.